Disciplina - História

O trabalho do historiador e as fontes históricas - Encaminhamento

1ª Aula

  • Para iniciar esta sequência de aulas o professor provocará seus alunos com a frase do escritor George Orwell: “Quem domina o passado domina o futuro; Quem domina o presente domina o passado.” (ORWELL, George. 1984. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. p. 236).
Ao apresentar essa frase aos estudantes, o professor deverá debater as seguintes questões:
1. É possível dominar o passado?
2. Onde existe o passado?
3. Como se define a noção de tempo em nossa sociedade?
4. Segundo George Orwell, qual o sentido de dominação inserido nessa frase?

Enquanto os alunos lançam suas respostas, o professor mediará a discussão sabendo que essa frase do livro 1984 se insere no contexto em que o personagem O'Brien explica para Winston Smith que o passado só existe nos registros e na memória. No regime autoritário orwelliano, dominado pelo partido, as pessoas e os registros são controlados no presente. Sendo assim, o poder centralizado no Grande Irmão controla o passado e o futuro. Essa frase consiste numa provocação para que os estudantes percebam que o passado é construído a partir de narrativas (textos) produzidas por pessoas.
Com relação às questões propostas no início da aula, espera-se que os estudantes compreendam que é possível dominar o passado na medida que este é uma produção humana e que ele existe apenas em vestígios e na memória. É importante destacar que o tempo existe enquanto padronização e com a função de organizar as atividades das pessoas. Para o autor George Orwell, o controle dessa dimensão da vida por parte do partido (regime autoritário representado na figura do Grande Irmão) é capaz de manipular as pessoas, seus pensamentos e suas ações, fazendo delas incapazes de questionar a ordem vigente. Portanto, “Quem domina o passado domina o futuro; Quem domina o presente domina o passado.”

Informações sobre o livro:
1984 relata uma sociedade submetida a um regime autoritário e conta a história de Winston Smith, membro do partido externo, funcionário do Ministério da Verdade. A função de Winston é reescrever e alterar dados de acordo com o interesse do partido. Winston questiona a opressão que o partido exerce sobre os cidadãos: se alguém pensasse diferente cometia "crimideia" (crime de ideia em novilíngua) e fatalmente era capturado pela Polícia do Pensamento, sendo vaporizado. Desaparecia. Inspirado na opressão dos regimes totalitários das décadas de 1930 e 1940, o livro não se resume a apenas criticar o Stalinismo e o Nazismo, mas toda a nivelação da sociedade, a redução do indivíduo em uma peça que deve servir ao Estado ou ao mercado, por meio do controle total, incluindo o pensamento e a redução do idioma.
Caso o professor queira ampliar a discussão acerca do tempo como construção social, sugere-se a leitura da obra Sobre o Tempo, do sociólogo alemão Norbert Elias.
Para concluir as discussões apresentadas nessa primeira reflexão referente ao controle sobre as pessoas e à manipulação do passado, os alunos assistirão dois trechos do filme 1984. Acesse os trechos de filme:

ícone de áudio 1984
Controle do Estado
ícone de áudio
1984

Manipulação do passado

2ª Aula

  • Nesta segunda aula, espera-se que os estudantes tenham clareza que o tempo é uma construção social e que o passado é narrado, escrito a partir de registros mediado pela ação humana. Sendo assim, cabe ao professor encaminhar a discussão para o trabalho do historiador, o responsável por escrever o passado.
Para aproximar os estudantes do trabalho do historiador, eles devem entender que o que estão estudando foi objeto de estudo de alguém. Além disso, é essencial compreender que os historiadores não reproduzem testemunhos, fazem inferências e interpretações a partir das evidências históricas.
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O professor deverá apresentar as seguintes fontes e debater os elementos de análise em cada um dos exemplos. As dimensões analíticas indicadas nas DCEs são articuladas, cabendo ao professor identificar cada um dos elementos. No processo de ensino e aprendizagem é essencial deixar os estudantes darem suas primeiras respostas de maneira livre para somente depois sistematizar as conclusões acerca de cada fonte.

Fontes escritas:

ícone de áudio
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Acesse o fragmento
ícone letra de música
Escrava fugida

Acesse o anúncio publicado em 1883
O texto consiste num fragmento da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Imagina-se que os estudantes reconheçam a Revolução Francesa como um evento que definiu o conceito de cidadania no mundo contemporâneo. O documento foi produzido em 1789, como resultado do processo revolucionário francês e serviu de inspiração para as Constituições de diversos países, inclusive do Brasil.

O anúncio foi publicado num jornal em 23 de agosto de 1883, cinco anos antes do fim da escravidão. Os estudantes do Ensino Médio devem conhecer alguns elementos do regime escravocrata no Brasil e possivelmente emitirão suas opiniões acerca das péssimas condições as quais essas pessoas eram submetidas. Esse texto revela as características físicas da escrava Felicidade com uma linguagem típica do século XIX.

Fontes não-escritas:
ícone de áudio
Anistia

Acesse a charge
ícone letra de música
Queremismo

Acesse a fotografia
A charge retirada do Arquivo Edgard Leuenroth (Unicamp-SP) é uma obra do artista Nani e deixa bastante claro que a Anistia foi comemorada com restrições por boa parte da população brasileira. Muitos artistas e intelectuais não acreditavam no pleno retorno da liberdade de expressão e da democracia. A charge costuma ser usada para satirizar uma situação política e, no período da Ditadura Civil militar (1964-1984), elas ganharam um papel de destaque no combate às práticas violentas do regime. Espera-se que os estudantes identifiquem o personagem com o capacete como um membro do Exército e reconheçam que o fim do regime militar não ocorreu de forma tranquila, pelo contrário, passou por avanços e retrocessos até 1984, quando Tancredo Neves foi eleito por voto indireto para presidente da República.

A fotografia retirada do acervo do Arquivo Nacional registra uma manifestação que pedia o retorno de Getúlio Vargas ao cargo de presidente da República. Os estudantes poderão observar nos cartazes as frases que clamavam pelo retorno do “pai dos pobres”. Esse movimento ocorreu em 1945 e ficou conhecido como “Queremismo”.

Fontes orais:
ícone de áudio
Apesar de você - Chico Buarque (1970)

Acesse o trecho da canção
ícone letra de música
Impeachment de Collor

Acesse o áudio do voto decisivo (02/10/1992)
Trecho da canção "Apesar de Você", escrita e originalmente interpretada pelo cantor e compositor brasileiro Chico Buarque, em 1970, lançada inicialmente como compacto simples naquele mesmo ano. A canção aborda implicitamente a falta de liberdades durante a ditadura militar. Depois de liberada pela censura, foi proibida de ser executada pelas rádios brasileiras pelo governo do general Emílio Médici.

O arquivo sonoro registra o voto decisivo para a aprovação pela Câmara da admissibilidade do pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor, dado pelo deputado Paulo Romano (PFL-MG). Com a decisão da Câmara, Collor foi afastado temporariamente da Presidência da República a 2 de outubro de 1992 e, em seguida, submetido ao julgamento do Senado por crime de responsabilidade. Pesava contra ele a acusação de chefiar uma extensa rede corrupção no governo federal. Tentando fugir à condenação, Collor renunciou ao cargo de presidente em 29 de dezembro do mesmo ano.
  • Após a apresentação/discussão sobre os exemplos de fontes, o professor solicitará aos estudantes que procurem em suas casas ou na web fotografias, vídeos, áudios ou qualquer objetos antigo que possa ser analisado como fonte histórica. Essa atividade pretende verificar a autonomia intelectual dos estudantes em analisar uma evidência do passado e classificá-la como fonte histórica, se colocando enquanto historiador.

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