Disciplina - História

História

14/08/2018

O que podemos aprender com os personagens de X-Men?

Por Carlos Camara -UNA

Criados em 1963, por Stan Lee e Jack Kirby, os quadrinhos com as aventuras de seres superdotados que viviam à margem da sociedade viriam a se transformar em um dos maiores sucessos da Marvel Comics: os X-Men. Esse sucesso se deu devido à diversidade dos personagens e à história de cada um deles.
E não é a toa que esses personagens são conhecidos como os “heróis dos rejeitados”. Eles representaram as minorias em diversos aspectos e trouxeram uma lição indispensável para as pessoas mais hostilizadas e discriminadas pela sociedade: a importância de se unir e lutar.

Os X-Men: diversidade e preconceitos

Ao longo dos anos, a saga ganhou novos exemplares e diversos personagens se juntaram aos cinco membros originais do Instituto Xavier para Jovens Super Dotados: Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem de Gelo e Anjo.
No entanto, o conteúdo com viés político permaneceu o mesmo, com os mutantes sendo perseguidos — e até mortos — por serem considerados “criaturas odiadas por Deus” — um paralelo à homofobia, ao racismo e ao preconceito da vida real.
Os personagens de X-Men são formados por africanos (Tempestade), islâmicos (Pó), judeus (Magneto e Lince Negra), asiáticos (Jubileu), indígenas (Apache e Miragem) e oriundos de diversas outras origens.
A saga trouxe diversas metáforas sobre os problemas históricos enfrentados por essas minorias étnicas como: o antissemitismo, representado pela história do personagem Magneto, e o apartheid na África do Sul, associado à ilha de Genosha, que serviu de campo de concentração para mutantes.
Essa diversidade traz um importante paralelo às questões sociopolíticas mundiais relacionadas as diferenças étnicas também nos dias atuais, como a crise dos refugiados, o fechamento das fronteiras estadunidenses aos imigrantes de determinadas nacionalidades, a saída do Reino Unido da União Europeia e os conflitos no Oriente Médio.

Professor Xavier: símbolo da importância da inclusão social
O cientista é considerado uma das mentes mais brilhantes e o maior telepata do mundo. Mesmo com as limitações físicas causadas pela falta de movimento nas pernas, ele consegue realizar um importante trabalho para ajudar todos os mutantes a controlarem os seus poderes e a conviverem em harmonia com os humanos.
Além de procurar combater o racismo, o Professor Charles Xavier, líder dos X-Men — e um dos personagens mais adorados da franquia —, se transformou em um símbolo da inclusão social de deficientes físicos.

Magneto: combate ao racismo
Antagonista da trama, Erik Magnus Lehnsherr, mais conhecido como Magneto, é um sobrevivente do Holocausto Nazista, que, sem esperança de convivência pacífica com os humanos, recorre à guerra e às práticas terroristas.
Muitos teóricos acreditam que esse personagem é uma representação do ativista político separatista, Malcolm X — que tinha a violência como método de autodefesa na luta contra o racismo. Enquanto isso, o Professor Xavier seria inspirado em Martin Luther King, que militava sobre os direitos civis dos negros com uma postura mais pacífica.

Tempestade e Jean Grey: empoderamento feminino
Tempestade, também conhecida como Ororo Munroe, é uma das principais personagens da Marvel e considerada uma das primeiras super-heroínas negras dos quadrinhos.
Com primeira aparição em 1975, período em que os Estados Unidos passava pela segunda onda do feminismo, sua personalidade forte e espírito de liderança a tornaram um símbolo do empoderamento feminino.
Já Jean Grey é considerada uma das mais fortes mutantes do mundo e importante representante feminina em toda a saga X-Men. Foi a primeira mulher a integrar o Instituto Xavier para Jovens Super Dotados e precisou enfrentar diversos desafios para se colocar em um ambiente majoritariamente masculino.

Estrela Polar, Mística e o Homem de Gelo: luta contra a homofobia
Outra questão bastante discutida em X-Men é a homofobia. A figura dos mutantes foi associada, diversas vezes, como uma metáfora aos homossexuais, algo demonstrado no segundo filme da saga com Bobby, o Homem de Gelo. Em uma das cenas, o personagem precisa revelar aos seus pais que é um mutante — um ser discriminado e rejeitado pelos humanos.
Frases do diálogo, como “você já tentou não ser um mutante?” (feita pela mãe do personagem) revelaram um importante paralelo com a vida real de muitos gays e lésbicas que precisam firmar e defender sua Módulos orientação sexual diante da família e da sociedade.
Já o Estrela Polar é o considerado o primeiro herói assumidamente gay dos quadrinhos. Posteriormente, outros personagens de X-Men, como Mística, Anole e o próprio Homem de Gelo seriam declarados como LGBT’s.
Sua homossexualidade foi revelada na revista “Tropa Alfa”, em 1992, e ele viria a protagonizar o primeiro casamento gay da Marvel. A celebração foi criada especialmente para comemorar a aprovação do casamento civil entre homossexuais no estado de Nova York, em 2011.

Miragem: uma representação do povo indígena
Personagens indígenas ainda são difíceis de serem encontrados em histórias de super-heróis. A franquia X-Men foi uma pioneira ao dar destaque a essas minorias, com os personagens Apache, Forge, Pássaro Trovejante e Miragem, integrante do grupo Novos Mutantes e representante da tribo Cheyenne.
Seu papel ganhou muito destaque nos quadrinhos graças a sua capacidade de retirar, ou criar, ilusões e medos em outras pessoas, tornando-a uma forte treinadora de mutantes e excelente combatente.

Vírus Legado: um paralelo com o HIV
Entre 1993 e 2001, um poderoso vírus chamado “Legado” se espalhou e matou centenas de mutantes. Essa parte da história dos X-Men se tornou uma metáfora ao vírus HIV, responsável pela AIDS.
Em 1981, ano de sua descoberta, muitas pessoas acreditavam que o vírus atingia exclusivamente à comunidade gay e “pessoas com comportamento de risco”, como garotas de programa e viciados em drogas injetáveis. Muitos acreditavam, também, que o vírus poderia ser transmitido por meio de qualquer tipo de contato, o que gerava forte preconceito e discriminação com os portadores.
Somente com estudos científicos e desenvolvimento da tecnologia foram descobertas as suas reais formas de transmissão e novos caminhos para que os portadores do HIV tivessem uma vida normal.
Na trama, a trajetória do “Legado” foi semelhante, mas, diferente do vírus HIV, a sua cura foi encontrada pelo Dr. Henry McCoy, o Fera, e liberada pelo personagem Colossus — que se tornou um dos principais símbolos de altruísmo e de combate ao preconceito na saga.

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